terça-feira, 21 de setembro de 2010

Brincar de ser feliz

Se,
estar triste,
é premissa básica
para um bom escrito,
então,
sinto muito.
Minha
inspiração
convalesce
moribunda.

terça-feira, 2 de março de 2010

O chamado

Olhei no espelho
Já não te reconheço
Mas ainda sinto apreço
Pelo que sinto e vejo

Por dentro me refaço
Também busco no ensejo
Satisfazer o desejo
De, outra vez, ser de aço

Olhei-nos no espelho
Estamos todos em um só
Nos reconheço, sinto e vejo

Ouça o som que chamou
Quando te leio, marejo
Realejo: o circo voltou!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Essa Noite...




Essa noite, eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou eu sonhei...
Escuridão total, parado, inerte, sem se mexer, não enxergava um palmo diante do nariz, olhou para o céu, nuvens negras, nuvens que transformavam tudo na mais sombria noite, nuvens que precipitavam a tempestade que viria, relâmpagos...
Neste momento percebera que estava em um palco, um teatro, um teatro sem teto; Atordoado tentava raciocinar mais nada vinha em sua mente, sua mente sempre tão fértil, sempre tão ativa e agora tão escura e sombria como aquele cenário que se apresentava diante de si, tal como aquele teatro dos horrores, sombrio...
Mas sabia que o palco era sua casa, no seu intimo sabia que aquele era seu lar, nele se sentia mais seguro, mais confiante sentia-se reconfortado, lembrou-se das inúmeras vezes que estivera naquele solo sagrado, lembrou-se de sua juventude e olhava seu passado com saudosismo, mas se aquilo era realmente um teatro...Lembrou-se, gritou...faça-se a luz, nada... gritou novamente faça-se a luz, mais uma vez sem resposta, percebera então que estava sozinho, sem amigos sem platéia sem ninguém, coxias vazias, tudo escuro, a única luz que vinha aos seus olhos eram os relâmpagos que caiam incessantemente sem tréguas...
Relâmpagos que ao se chocarem com chão produziam o mais aterrorizante barulho, um barulho ensurdecedor que entrava pelos seus tímpanos fazendo-o levar as mãos ao ouvido e ajoelhar-se diante de tanta dor, mas percebera neste mesmo instante que a luz emitida pelos raios formavam sombras nas paredes velhas e sujas do teatro, sombras com formas... formas... demônios, demônios que riam e gargalhavam com aquilo que se apresentava diante deles... medo sentiu esse sentimento invadir seu peito, uma agonia lhe consumia e quanto mais se curvava mais eles se aproximavam, riam, gargalhavam, rinchavam ao seu ouvido cada vez mais próximos...
Mais um raio... luz, sim luz, passou a olhar com mais atenção para esses pequenos segundos de luminosidade... sim luz... uma imagem se refletiu na luz... mais atenção, sim conhecia a imagem refletida, uma a uma revezadamente as imagens se alternavam... velhos amigos, amigos que sempre compartilharam aquele palco com ele, um a um aparecendo em suas lembranças, firmou o pensamento na figura do velho palhaço... conseguiu um breve riso no canto dos lábios... mais imagens mais amigos, familiares, sim seus irmãos, sua mãe, sua esposa, seus filhos e até mesmo seu pai que há algum tempo já tinha deixado o mundo dos vivos, estavam todos lá, e no seu intimo sentiu a força que eles lhe enviavam, sentiu o calor que emanava daquelas pessoas, pessoas que sempre estiveram ao seu lado, tanto nos momentos bons quanto nos ruins... sim por isso estavam ali para não deixar que ele se abatesse, para não deixar que ele se entregasse aos demônios, demônios que agora se afastavam dele tomando seus lugares de origem.
Veio a tempestade...
A água que caia do céu lavava seu corpo, as gotas escoriam pelo seu rosto e caiam ao chão como lagrimas...cada vez mais intensa a chuva ia encharcando suas roupas...mais forte, a chuva agora com violência machucava-lhe a face, sentia cada pingo batendo com força em seu corpo, tão forte como golpes deferidos contra ele a roupa encharcada cada vez mais pesada, não agüentava mais o peso... ajoelhou-se... mais chuva, cada vez mais intensa deitou-se no solo do palco colocou a mão sobre a cabeça, tentou gritar novamente a voz não saia, agora sentia como se algo estivesse sobre ele, não permitindo que ele se mexesse e sufocando-o, o peso parecia esmagá-lo... chorou...chorou copiosamente e quando parecia que ele não teria mais força para agüentar, quando parecia que finalmente chegara ao fim de tudo... silêncio total... sem chuva... sem raios... sem relâmpagos...sem demônios e sem amigos, abriu os olhos e embora tudo estivesse na mais absoluta escuridão sabia que estava em seu quarto, acendeu a luz, ainda chorava, olhou para cama ao seu lado seu filho que dormira abraçado a mãe naquela noite, se sentiu aliviado, olhou em volta e sentiu feliz por estar ali, fez uma pequena prece deito-se novamente e antes de cair nas profundezas do reino Hipnos o deus do sono, e de entregar novamente seus pensamentos ao seu filho Morfeu, no ultimo fio de consciência... balbuciou... faça-se a luz.

Essa noite, eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou... acordei.

Será?