quinta-feira, 3 de março de 2011

Back to nowhere

Diário de viagem, algum lugar de lugar nenhum - Brasil - 09 de julho de 2008.
Feriado em São Paulo e eu aqui, tão longe... E esta sensação, que não me abandona, de estar em outro país. A solidão da estrada faz com que a gente converse com pessoas que, costumeiramente, minhas neuroses típicas da teoria da conspiração não permitiriam.
Um senhor com, provavelmente, mais tempo de vida do que soma das horas de trabalho das eternas prostitutas do entorno de todas as rodoviárias, vem e diz:
_Tá gostano de nossa cidade?
_Já conhecia - respondo. (Mentira).
_Genti rica viaja bastante pra cá... O sinhô parece ser de famía rica.
_Nem de longe - afirmo com impetuosa prontidão, olhando em volta, alerta. O que é ser rico? - Pergunto.
_Sei não, só mi pareceu. Mas o sinhô estudô bastante, não?
Divago. Essa coisa de chamar de senhor; esse respeito vertiginoso que está arraigado no povo brasileiro, resquício de passado colonialesco, com tudo e todos que lhe parecem ser mais, ter mais...
_Eu num istudei, não sinhô - continua. Só sei fazê cela pra cavalo e tocá violinu. "Só? Apanho até hoje do meu violão de estudante" - penso.
Mostra-me as mãos cheia de calos e o polegar ainda com amostras de tinta do último departamento público que solicitou sua assinatura.
_Num cunheço nenhum outro lugá. Nem o Rio, nem São Paulo.
Pega minhas malas, já atarefado com os próprios pertences, como se tivesse a estranha obrigação moral de servir.
_Não está perdendo muita coisa.
Pegando minhas malas de volta, respondo meio triste, meio irritado com tanta submissão voluntária.
Silêncio... Embarco para outro rincão de paisagens e pessoas esquecidas.