quarta-feira, 4 de março de 2009

O palhaço

O palhaço rouba a cena. A máscara cai. Toda limitação é superada, dada a certeza, que com clareza se esvai a sua postura, obs-cena. O palhaço está por dentro. Não respeita o padre, nem o delegado. Nem tarado, conjurado ou renegado. Às vezes, barbeado, bebe um pouco. Demais. O palhaço é só dor. Sua alegria recobre as ausências, as cicatrizes. Meretrizes em seu rosto a se rasgar na superfície da epiderme. O palhaço está por dentro. O palhaço está por fora. Já, ninguém o ouve. Suas falas são passadas, repassadas e ultrapassadas. Já ninguém o ouve. O palhaço tem saudade. De tudo. De nada. Obrigado a agradecer. Sorrir sem querer. Concordar sem se meter. Sugerir sem ser ouvido. Desmentido na certeza. Agredido na pobreza. De espírito, de conhecimento, de sanidade. Sua própria loucura, enlatada, engarrafada. Consumida dia-a-dia em doses sazonais. Café, almoço e janta. O mundo é um buraco. O palhaço está por dentro. O palhaço está por dentro. O palhaço da alegria, da tristeza sorrateira, do ser tratado como tal. O palhaço está por dentro. O palhaço somos nós.

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